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Alfabetização e Letramento







            E qual é o papel da escola nesse assunto? Em relação à escola, é importante discutirmos sobre
            as práticas e sobre a aprendizagem do aluno, que se preocupam, conforme afirma a abordagem
            piagetiana, com as possibilidades cognitivas que seu desenvolvimento anterior lhe permite e com
            a natureza do objeto do conhecimento que lhe facilite essa aquisição.

            Algumas práticas vigentes de alfabetização deixam de considerar essas premissas básicas, favo-
            recendo o ponto de vista do adulto e não o da criança, pois, de acordo com o construtivismo, o
            papel  central no processo de ensino-aprendizagem passa a ser o da criança e não mais o do(a)
            professor(a). Antes, na chamada escola tradicional, ensinava-se diretamente os diversos concei-
            tos, por meio de cópias, “decorebas”, memorizações de acordo com o que o mundo adulto deci-
            dia e considerava convencional. Tomemos o conceito de família: a professora escrevia o conceito
            na lousa e todos copiavam, decoravam para responder na prova, de acordo com o exposto pela
            professora e com a definição socialmente aceita. Atualmente, de acordo com o construtivismo,
            leva-se em conta o que a criança compreende sobre o conceito de família, ou seja, o significado
            disso para ela, que provavelmente  tenha aprendido de acordo com suas vivências com a própria
            família, com suas experiências concretas e afetivas.

            A definição dada pela criança estaria de acordo com o seu nível de desenvolvimento psicológico.
            Com o passar do tempo e com o seu desenvolvimento intelectual, esse conceito vai se transfor-
            mando e ficando mais abrangente. Para Piaget, quando o jovem torna-se capaz de pensar mais
            abstratamente, o conceito de família muda, aproximando-se ou ultrapassando aquele que é
            socialmente aceito.

            Atualmente, a ideia predominante é de que criança não chega à escola como “tábula rasa”,
            como era considerada nas pedagogias tradicionais, que acreditavam que tudo que o aluno
            aprendia dependia de ser ensinado intencionalmente por alguém. É certo que a gente sempre
            aprende com alguém, ainda que os pais não ensinem a ler e a escrever, intencionalmente, como
            já destacado, a criança chega à escola com conhecimentos prévios, aprendidos por meio de
            interações sociais.
            O problema é que a pedagogia tradicional considera que o conhecimento ou a verdade já eram
            predeterminados antes de acontecer. Geralmente, nessa concepção, considera-se que quem de-
            tém o conhecimento são os indivíduos mais velhos. Assim, no caso da alfabetização, apenas os
            alfabetizados saberiam sobre a escrita. Essa concepção do conhecimento passa pela aprovação
            da sociedade vigente. “Saber algo a respeito de certo objeto não quer dizer, necessariamente,
            saber algo socialmente aceito como conhecimento” (FERREIRO, 2011, p. 20).

            Na escola, esse conhecimento sobre a escrita só poderia acontecer após a professora o ter ensi-
            nado. Para que isso ocorresse, era necessário optar por um método, de forma que as discussões
            sobre alfabetização giravam em torno dessas escolhas.  Como será que o processo de alfabeti-
            zação ocorria? Vamos descobrir!



            1.2 Métodos de alfabetização



            Você já reparou que nas sociedades atuais, urbanizadas e escolarizadas, a escrita e a leitura
            dominam grande parte da comunicação? Ela está presente em outdoors, jornais, revistas, livros,
            computadores, filmes, smartphones, entre tantos outros.  Ao longo de sua história, o ensino da
            escrita e da leitura foi se constituindo como uma técnica. Enquanto isso, em virtude da preocu-
            pação em ensinar a ler e a escrever, os textos, que antes eram privilegiados informal e cotidiana-
            mente pelas pessoas, foram sendo abandonados no processo de alfabetização escolar.

            E o que isso quer dizer? Significa que, quando a instituição escolar entra em cena e toma pra si
            a responsabilidade de alfabetizar, ela acaba por se especializar demasiadamente em técnicas sis-



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