Page 14 - alfabetizacao_letramento_1
P. 14
Alfabetização e Letramento
A despeito de toda essa discussão, nenhuma delas levou em conta as concepções das crianças
sobre o sistema de escrita. Há práticas que levam os alunos a supor que o conhecimento é algo
que os outros possuem e que só podem obter por intermédio deles, sem participar dessa cons-
trução. Há práticas que os levam a pensar que “o que existe para se conhecer” é um conjunto
estabelecido de coisas, fechado e não modificável. Há práticas que levam a criança a ficar de
fora do conhecimento, como espectador ou receptor, sem encontrar respostas aos porquês.
Nenhuma prática pedagógica é neutra e elas estão apoiadas nas concepções do processo de
ensino-aprendizagem, bem como do objeto dessa aprendizagem. São essas práticas e não mé-
todos que têm efeitos no domínio da língua escrita ou em outros conhecimentos, pois esses
métodos são limitados,
[...] os métodos (como sequência de passos ordenados para chegar a um fim) não oferecem
mais do que sugestões, incitações, quando não práticas rituais ou conjuntos de proibições. O
método não pode criar conhecimento. (FERREIRO, 2011, p. 32).
Algumas crianças que só copiam são resultados de práticas que entendem que a cópia e a re-
petição de modelos devem ser priorizadas como procedimentos de ensino. Se analisarmos as
crianças que são copistas experientes, mas que não compreendem o que copiam, veremos que
a origem do problema está no entendimento de quem ensina. Vamos compreender isso melhor?
Pensemos no caso do professor que confunde escrever com desenhar letras. Por isso que “o ‘fá-
cil’ e o ‘difícil’ não podem ser definidos a partir da perspectiva do adulto, mas sim da de quem
aprende” (FERREIRO, 2011, p. 32).
Entretanto, os estudos acadêmicos, os resultados das avaliações nacionais e internacionais, os
órgãos responsáveis por pesquisas em educação, por exemplo, o Instituto Nacional de Estudos e
Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), os noticiários (em suas diversas formas: jornal, TV,
rádio, internet, entre outros) têm revelado que, no Brasil, a escola tem fracassado em sua tarefa
de alfabetizar. Os estudos apontam que esse fracasso não pertence à contemporaneidade, ele
vem acontecendo no decorrer de todo o século XX até os dias atuais. Assim:
Decorridos mais de cem anos desde a implantação, em nosso país, do modelo republicano de
escola, podemos observar que, desde essa época, o que hoje denominamos “fracasso escolar
na alfabetização” se vem impondo como problema estratégico a demandar soluções urgentes
e vem mobilizando administradores públicos, legisladores do ensino, intelectuais de diferentes
áreas de conhecimento, educadores e professores (MORTATTI, 2006, p.3).
VOCÊ O CONHECE?
Emilia Ferreiro nasceu na Argentina em 1936. Doutorou-se na Universidade de Ge-
nebra, sob a orientação do biólogo e Psicólogo Jean Piaget, cujo trabalho é sobre a
epistemologia genética (teoria que aborda a gênese do conhecimento humano). Ela
explorou um campo pelo qual Piaget não havia se interessado: a escrita. A partir de
1974, ela desenvolveu, na Universidade de Buenos Aires, uma série de experimentos
com crianças que deu origem às conclusões apresentadas em Psicogênese da Língua
Escrita, assinado em parceria com sua colaboradora, a pedagoga espanhola Ana Tebe-
rosky e publicado em 1979. Além da atividade de professora universitária, a psicolin-
guista está à frente do site www.chicosyescritores.org, no qual estudantes escrevem em
parceria com autores consagrados e publicam os próprios textos. Informações dispo-
níveis em: <http://revistaescola.abril.com.br/linguaportuguesa/alfabetizacao-inicial/
estudiosa-revolucionou-alfabetizacao-423543.shtml>.
14 Laureate- International Universities