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VOCÊ SABIA?

                            Desde o início do século XX, busca-se estabelecer um modelo de ortografia padroni-
                            zado que possa ser usado como referência nas publicações oficiais e no ensino. Saiba
                            que, no Brasil, já houve três reformas ortográficas: em 1943, em 1971 e em 2009.



                        Lembremos, ainda, de que, além de ser considerada como técnica, a escrita foi alvo de outros
                        equívocos. Considerou-se que sua origem era uma invenção simplista, cuja natureza seria de
                        um código. Durante muito tempo e até recentemente, costumava-se atribuir às letras a função
                        de transcrições gráficas de valores sonoros unitários. E isto não é verdade? Isso acontece, mas
                        só que não é mantida a mesma transcrição em todas as palavras, sendo que essas restrições
                        atrapalham as pessoas na hora de decifrá-las.

                        É por isso que não podemos ter total entendimento do que se quer expressar, o que causa uma
                        complicação, pois se confiarmos nessa transcrição, temos que decorar letra por letra, não é mes-
                        mo? Mas nem sempre as unidades gráficas têm a mesma significação. Como assim?

                        Por exemplo, uma mesma letra pode representar diferentes sons: o fonema /s/ ora é /s/ como em
                        “saco”, ora é /z/ como em casa. Também acontece o inverso: o mesmo som é representado por
                        várias grafias. Vamos utilizar o mesmo fonema /s/ para ilustrar: ele pode ser grafado s, c, ç ou
                        ss. O /c/ de “casa” pode ser “k” de Kátia e “q” de queijo, entre outros tantos exemplos.

                        Essas possibilidades por si só destroem a ideia de código, pois a peculiaridade dele é a precisão,
                        basta nos lembrarmos das senhas que hoje usamos para controle de contas. A escrita é uma
                        representação. Segundo Ferreiro (2012), em um código, os elementos e as características são
                        inventadas e, arbitrariamente, não precisam de explicação e nem se apresentam vinculados:

                                          [...] no caso da codificação, tanto os elementos como as relações já estão predeterminados.
                                          (...) no caso de uma representação, nem os elementos nem as relações estão predeterminados
                                          [...] Embora se saiba falar adequadamente, e se façam todas as discriminações perceptivas
                                          aparentemente necessárias, isso não resolve o problema central: compreender a natureza desse
                                          sistema de representação. (FERREIRO, 2011, p. 16 e 19).

                        O sistema alfabético tem caráter bifásico, isto é, seus signos linguísticos são formados a partir da
                        união indissolúvel de um significante com um significado, sendo que sua intenção inicial é repre-
                        sentar as diferenças entre os significantes, diferentemente do sistema ideográfico, que representa
                        as diferenças no significado. No entanto, ressaltamos que:

                           •  há elementos essenciais da fala (língua oral) que não são retidos na representação
                              (entonação, gestos etc.);
                           •  palavras são tratadas como equivalentes;


                           •  os paralelos no significado são ignorados para privilegiar as semelhanças sonoras.
                        É necessário compreender o significante e o significado, por exemplo, quando uma letra mantém
                        sempre a mesma representação escrita em relação ao som, quando muda, por que muda, como
                        muda etc. Existem regras convencionais e processos históricos da origem das palavras. Portanto,
                        conforme o entendimento sobre a natureza da escrita decide-se também a prática pedagógica a
                        ser escolhida, de modo que:


                                          [...] se a escrita é concebida como um código de transcrição, sua aprendizagem é concebida
                                          como a aquisição de uma técnica; se a escrita é concebida como um sistema de representação,
                                          sua aprendizagem se converte na apropriação de um novo objeto de conhecimento, ou seja,
                                          em uma aprendizagem conceitual. (FERREIRO, 2011, p. 19).

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