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Antes da invenção da prensa (1455), por Gutemberg, os textos manuscritos, ou seja, escritos à
                        mão, sofriam alteração propositalmente ou não, por aqueles que os possuíam e/ou os liam ou,
                        ainda, por aqueles que os reproduziam (os copistas). Os primeiros livros impressos por Gutem-
                        berg  foram as Bíblias, que eram escritas em latim.

                        A diversidade de textos, dos mais simples, como os panfletos, aos mais complexos, como  jornais
                        e livros, ao serem produzidos e reproduzidos pela impressão (por meio da prensa), tornaram-nos
                        estáveis, isto é, suas cópias passaram a ser idênticas umas às outras, além disso, foi possível
                        ampliar suas difusões.

                        Chamamos a atenção para a invenção de Gutemberg: a prensa de tipos móveis, pois foi graças
                        a ela que a quantidade e a estabilidade de textos escritos passaram a ser disseminados cada vez
                        mais e paulatinamente à população, o que, consequentemente, viabilizou  as práticas de leitura
                        e escrita, isto é, o letramento, de modo que

                                          [...] a “revolução” de Gutemberg alterou profundamente as formas de produção, de reprodução
                                          e de difusão da escrita, e, conseqüentemente, modificou significativamente as práticas sociais
                                          e individuais de leitura e de escrita – modificou o letramento, isto é, o estado ou condição de
                                          quem participa de eventos em que tem papel fundamental a escrita (SOARES, 2002, p. 153)





                                 VOCÊ O CONHECE?

                            A professora Magda Soares é doutora e livre-docente em Educação pela Universidade
                            Federal de Minas Gerais (UFMG). Professora titular emérita da Faculdade de Educação
                            dessa Universidade, ela é autora de diversos livros sobre o ensino de Português e de
                            coleções didáticas para o nível fundamental. Além disso, a professora é uma das auto-
                            ras mais influentes nas definições de alfabetização e letramento



                        Dessa maneira, consequentemente, a prática social da leitura por meio dos diversos materiais
                        escritos vai se tornando cada vez mais acessível à população, ensinando-a, concomitantemente,
                        a ler e a escrever. Chamamos a atenção aqui para o seguinte ponto: letramento é um termo
                        recente, inventado no final do século XX, e ele será definido mais adiante, mas, apesar disso, as
                        práticas sociais da leitura sempre existiram.

                        Por outro lado, a expansão da alfabetização, entendida como um processo de ensino a ler e a
                        escrever, só foi acontecer séculos depois, na Europa, em decorrência da Reforma Protestante.
                        Lutero, o líder da Reforma, propôs que todos deviam aprender a ler para poder compreender
                        a Bíblia com autonomia. Preste atenção: a Reforma Protestante aconteceu em 1517, depois da
                        invenção da prensa, sendo que os primeiros livros impressos foram as Bíblias católicas. Com
                        essa perspectiva, criou-se a necessidade de alfabetizar, isto é, havia uma grande motivação para
                        aprender, por meio desse gênero literário, a literatura bíblica.

                        Além de ser a finalidade da aprendizagem, o texto bíblico era, ao mesmo tempo, o próprio
                        material de leitura utilizado no ensino de ler e escrever. Do ponto de vista da alfabetização, é
                        importante destacarmos que o objetivo (ensinar a ler e a escrever) era feito pela leitura de um
                        texto que tinha importância para a vida das pessoas, isto é, era uma leitura significativa. Note: a
                        alfabetização e a prática social da leitura (letramento) não estavam separadas, elas aconteciam
                        juntas, durante a leitura da Bíblia.








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