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É frequente que os profi ssionais de saúde men-
                                         tal se coloquem e sejam vistos como detentores de
                                         um conhecimento específi co (e, por vezes, hermético)
                                         do qual os profi ssionais da saúde da família não des-
                                         frutariam. É muito tentador, por isso, que profi ssio-
                                         nais de apoio matricial, núcleos de apoio à saúde da
                                         família e outros “mentaleiros” se coloquem no lugar
                                         dos ‘sabidos’. Relembrar a frase de Paulo Freire sobre
                                         identidade cultural é uma das formas de escapar desta
                                         tendência quase que natural nas relações entre “espe-
                                         cialistas” e “generalistas”.
                                              Assim como Paulo Freire fez no círculo de cultu-
                                         ra, é necessário estar ciente de que há diversas coisas
                                         que o profi ssional de saúde mental não sabe e que
                                         precisará aprender com os profi ssionais da atenção
                                         primária. Aqui, claramente, não se trata de um proces-
                                         so de aprendizagem de mão única, mas, por excelên-
                                         cia, de uma troca entre universos que se encontram.
                                              Para isso, portanto, é absolutamente essencial
                                         reconhecer e, ao mesmo tempo, assumir a identidade
                                         cultural (no caso, os códigos e vicissitudes da saúde
                                         mental e da saúde da família) de cada parte envolvi-
                                         da – a sua e a do outro. Apenas na posição de respeito
                                         com seu próprio lugar e com o lugar do outro é que
                                         as trocas podem se tornar produtivas, renovadoras,
                                         transformadoras.
                                              Acredito que este livro tem muito a contribuir
                                         neste sentido. Mais do que um texto acadêmico sobre
                                         as difi culdades da interlocução entre esses dois uni-
                                         versos, ele propõe bases didáticas para buscar e en-
                                         contrar saídas factíveis para os dilemas que se apre-
                                         sentam neste campo.










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