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exílio e o inspirador do tal círculo de cultura do qual
eles participavam.
Paulo Freire não se fez de rogado e, diante da-
quela deferência toda, explicou que assim como havia
coisas que ele sabia e fazia que eles não sabiam e nem
faziam, os membros da comunidade também tinham
conhecimentos e práticas que ele não dominava. O
círculo seguiu seu ritmo, e, não depois de muito tem-
po, o grupo passou a discutir situações do cotidiano
recente da comunidade. Alguém, então, fez menção a
uma morte que havia acontecido por conta da queda
de um “quebrador”. Freire (2002, p. 3) interveio: “Eu
não disse que tinha coisas que vocês sabiam e eu não?
Eu não sei o que é um ‘quebrador’. Vocês vão ter que
ensinar isso para mim”.
E então os educandos ensinaram que “quebra-
dor” era o termo usado para uma escora que suporta
a parede de um poço em construção, e que eram fre-
quentes as mortes de cavadores de poço quando esta
estrutura cedia, soterrando os trabalhadores.
Paulo Freire, nessa pequena passagem, encar-
nou, na prática, uma série de máximas sobre o pro-
cesso de ensino que ele veio a cristalizar, no primeiro
capítulo da obra Pedagogia da autonomia em 1996
(FREIRE, 2002, p. 3). Dentre elas, destacam-se: “en-
sinar exige respeito aos saberes dos educandos”, “en-
sinar exige a corporeifi cação das palavras pelo exem-
plo”, “ensinar exige risco, aceitação do novo e rejeição
a qualquer forma de discriminação”.
Ao longo desse capítulo, todas as frases que de-
fi nem o ato de ensinar, segundo Paulo Freire, estão li-
gadas, de alguma forma, ao conteúdo ou ao escopo de
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